“Eu te odeio”, disse ela para um homem cujo crime único era o de não amá-la. “Eu te odeio”, disse muito apressada. Mas não sabia sequer como se fazia.
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Onde aprender a odiar para não morrer de amor? Com quem? O jundo de primavera, o mundo das bestas que na primavera se cristianizam em patas que arranham mas não dói...
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No peito que só sabia resignar-se, que só sabia suportar, só sabia pedir perdão, só sabia perdoar, que só aprendera a ter a doçura da infelicidade, e só a prendera a amar, amar, amar. Imaginar que talvez nunca experimentasse o odeio de que sempre fora feito o seu perdão, fez seu coração gemer sem pudor, ela começou a andar tão depressa que parecia ter encontrado um súbito destino. Quase corria, os sapatos a desequilibravam, e davam-lhe uma fragilidade de corpo que de novo a reduzia a fêmea presa, os passos tomaram mecanicamente o desespero implorante dos delicados, ela que não passava de uma delicada.