quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Um búfalo em mim...


Clarisse Lispector



O conto "O Búfalo" me fez pensar em mim. A linguagem é altamente sinestésica, faz você confundir visão, olfato, tato...


Eis alguns trechos:



Mas era primavera. Até o leão lambeu a testa glabra da leoa. Os dois animais louros. A mulher desviou os olhos da jaula, onde só o cheiro quente lembrava a carnificina que ela viera buscar no Jardim Zoológico. Depois o leão passeou enjubado e tranqüilo, e a leoa lentamente reconstituiu sobre as patas estendidas a cabeça de uma esfinge. "Mas isso é amor, é amor de novo", revoltou-se a mulher tentando encontrar-se com o próprio ódio mas era primavera e dois leões se tinham amado.
...
Mas era primavera, e, apertando o punho no casaco, ela mataria aqueles macacos em levitação pela jaula, macacos felizes como ervas, macacos se entrepulando suaves, a macaca com olhar resignado de amor, e a outra macaca dando de mamar. Ela os mataria com quinze secas balas: os dentes da mulher se apertavam até o maxilar doer. A nudez dos macacos. O mundo que não via perigo em ser nu. Ela mataria a nudez dos macacos. Um macaco também a olhou segurando as grades, os braços descarnados abertos em crucifixo, o peito pelado exposto sem orgulho. Mas não era o peito que ela mataria, era entre os olhos do macaco que ela mataria, era entre aqueles olhos que a olhavam sem pestanejar. De repente a mulher desviou o rosto: é que os olhos do macaco tinham um véu branco gelatinoso cobrindo a pupila, nos olhos a doçura da doença, era um macaco velho – a mulher desviou o rosto, trancando entre os dentes o sentimento que ela não viera buscar, apressou os passos, ainda voltou a cabeça espantada para o macaco de braços abertos: ele continuava a olhar para a frente: “Oh não, não isso”, pensou. E enquanto fugia, disse: “Deus, me ensine somente a odiar”.
“Eu te odeio”, disse ela para um homem cujo crime único era o de não amá-la. “Eu te odeio”, disse muito apressada. Mas não sabia sequer como se fazia.
...
Onde aprender a odiar para não morrer de amor? Com quem? O jundo de primavera, o mundo das bestas que na primavera se cristianizam em patas que arranham mas não dói...
...
No peito que só sabia resignar-se, que só sabia suportar, só sabia pedir perdão, só sabia perdoar, que só aprendera a ter a doçura da infelicidade, e só a prendera a amar, amar, amar. Imaginar que talvez nunca experimentasse o odeio de que sempre fora feito o seu perdão, fez seu coração gemer sem pudor, ela começou a andar tão depressa que parecia ter encontrado um súbito destino. Quase corria, os sapatos a desequilibravam, e davam-lhe uma fragilidade de corpo que de novo a reduzia a fêmea presa, os passos tomaram mecanicamente o desespero implorante dos delicados, ela que não passava de uma delicada.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Toda forma de amor


Falar de amor é sempre bom... Como canta Lulu Santos, "consideramos justa toda forma de amor". Então, aproveito para dizer aos meus amigos de verdade (não preciso citar nomes agora, pois eles sabem quem são) que os amo e não tenho vergonha de dizer isso a cada um deles.


Amo!

Amo a vida, apesar de alguns momentos de tristeza.

Amo minha família, apesar dos atritos.

Amo os amigos, apesar dos sumiços.

Amo minha profissão, apesar de saber quão difícil está o mercado de trabalho.

Amo o sol, o mar, a praia.

Amo a lua, o luar e o sereno.

Amo, amo, amo, amo!

Estou, ou melhor, sou cheia de amor para dar!


Toda forma de amor (A letra é linda!)
Lulu Santos

Eu não pedi pra nascer

Eu não nasci pra perder

Nem vou sobrar de vítimadas circunstâncias

Eu tô plugado na vida

Eu tô curando a ferida

Às vezes eu me sintouma mola encolhida

Você é bem como eu

Conhece o que é ser assim

Só que dessa história ninguém sabe o fim

Você não leva pra casa

E só traz o que quer

Eu ou teu homem

Você é minha mulher

E a gente vive junto

E a gente se dá bem

Não desejamos mal a quase ninguém

E a gente vai à luta

E conhece a dor

Consideramos justa toda forma de amor

Eu não pedi pra nascer

Eu não nasci pra perder

Nem vou sobrar de vítima das circunstâncias

Você não leva pra casa

E só traz o que quer

Eu sou teu homem

Você é minha mulher

E a gente vive junto

E a gente se dá bem

Não desejamos mal a quase ninguém

E a gente vai à luta e conhece a dor

Consideramos justa toda forma de amor

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

E por falar em Skank...

Formato Mínimo

Composição: Samuel Rosa - Rodrigo F. Leão

Começou de súbito
A festa estava mesmo ótima
Ela procurava um príncipe
Ele procurava a próxima
Ele reparou nos óculos
Ela reparou nas vírgulas
Ele ofereceu-lhe um ácido
E ela achou aquilo o máximo
Os lábios se tocaram ásperos
Em beijos de tirar o fôlego
Tímidos, transaram trôpegos
E ávidos, gozaram rápido
Ele procurava álibis
Ela flutuava lépida
Ele sucumbia ao pânico
E ela descansava lívida
O medo redigiu-se ínfimo
E ele percebeu a dádiva
Declarou-se dela, o súdito
Desenhou-se a história trágica
Ele, enfim, dormiu apático
Na noite segredosa e cálida
Ela despertou-se tímida
Feita do desejo, a vítima
Fugiu dali tão rápido
Caminhando passos tétricos
Amor em sua mente épico
Transformado em jogo cínico
Para ele, uma transa típica
O amor em seu formato mínimo
O corpo se expressando clínico
Da triste solidão, a rúbrica

Pra recordar, relaxar e ser feliz...



Ouvindo Skank para relaxar... De baladas a um som mais pesado, é impressionante como os caras de Minas conseguem agradar. Para mim, o momento que mais prova isso ainda está na minha mente.


Era Festival de Verão (não lembro de que ano... talvez 2004 ou 2005), o Skank tocando e a arena lotada. Daí, todo mundo resolveu ouvir as ordens do Samuel Rosa: os homens (e algumas mulheres) tiraram suas camisas e as rodaram como hélices de um helicóptero. Esta foi a peça-chave. Enquanto a galera agitava as camisas sob o agito da banda, uma aeronave veio conferir a agitação bem de pertinho. O resultado? Uma filmagem linda, um colorido inebriante que até hoje passa como um filme.


E por falar em relaxar, assim a lembrança do Festival e os CDs, recordar alguns momentos é sentir prazer duplamente. Sentir prazer é ficar feliz relaxar: boas lembranças nos deixam assim.


O primeiro salário, o primeiro dia de aula na faculdade, a apresentação da monografia e a formatura, a entrada no mercado de trabalho... encontros fenomenais com amigos, com a família, uma viagem deliciosa a Natal, é tanta coisa boa para recordar... Sinto-me feliz! Sei que muita água ainda vai rolar, e eu realmente quero que isso aconteça!

Pode parecer ilusão, mas ainda quero me sentir completamente feliz!


quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Cuidando bem de mim



Hoje já nem ouço muito Vander Lee, mas me curvo a uma música divina. "Meu Jardim" diz tudo o que eu quero e tenho procurado fazer. Ela fala de renovação, de pensar a vida e refazer os caminhos. Não ouço esta canção com ouvidos de tristeza, de frustração, e, sim, com a expectativa de ver os horizontes se abrirem, ver a vida melhorar e ser ainda mais feliz. Porque a verdadev é que eu sou feliz!



Leiam a letra:

Tô relendo minha lida, minha alma, meus amores
Tô revendo minha vida, minha luta, meus valores
Refazendo minhas forças, minhas fontes, meus favores
Tô regando minhas folhas, minhas faces, minhas flores
Tô limpando minha casa, minha cama, meu quartinho
Tô soprando minha brasa, minha brisa, meu anjinho
Tô bebendo minhas culpas, meu veneno, meu vinho
Escrevendo minhas cartas, meu começo, meu caminho
Estou podando meu jardimEstou cuidando bem de mim


domingo, 15 de novembro de 2009

Em tempos de mudança, de fazer alguma coisa: DO IT


Faca alguma coisa, mas
mude a sua realidade!
Eu estou tentando...








Do It
Lenine

Tá cansada, senta
Se acredita, tenta
Se tá frio, esquenta
Se tá fora, entra
Se pediu, agüenta
Se pediu, agüenta...
Se sujou, cai fora
Se dá pé, namora
Tá doendo, chora
Tá caindo, escora
Não tá bom, melhora
Não tá bom, melhora...
Se aperta, grite
Se tá chato, agite
Se não tem, credite
Se foi falta, apite
Se não é, imite...
Se é do mato, amanse
Trabalhou, descanse
Se tem festa, dance
Se tá longe, alcance
Use sua chance
Use sua chance...
Se tá puto, quebre
Ta feliz, requebre
Se venceu, celebre
Se tá velho, alquebre
Corra atrás da lebre
Corra atrás da lebre...
Se perdeu, procure
Se é seu, segure
Se tá mal, se cure
Se é verdade, jure
Quer saber, apure
Quer saber, apure...
Se sobrou, congele
Se não vai, cancele
Se é inocente, apele
Escravo, se rebele
Nunca se atropele...
Se escreveu, remeta
Engrossou, se meta
E quer dever, prometa
Prá moldar, derreta
Não se submeta
Não se submeta...

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Eu sou feita do resto de estrelas...





Concordo com André: não sei para que existem tantas classificações... de cor, raça, classe. No fundo, todos somos iguais e serviremos de comida para baratas, traças e bichos afins, dos quais, em vida, morremos de medo e de nojo.

Lembrei disso ao ouvir uma música de Lenine, pois somos de raiz porguesas, índia e africana... Nem vale dizer branco, "moreno" ou negro. O que vale não é a cor, é o amor que a gente leva no coração e a forma como a gente leva a vida. Então, eu sou colorida... e fui feita da matéria do universo! E pela relação de amor à terra, à natureza, confesso que gostaria de ser índia, uma índia de verdade!


Bebo Lenine, enquanto os VIPs bebem álcool no show ao vivo desse adorável músico, em Praia do Forte!
Tubi Tupy

Eu sou feito de restos de estrelas
Como o corvo, o carvalho e o carvão
As sementes nasceram das cinzas
De uma delas depois da explosão
Sou o índio da estrela veloz e brilhante
O que é forte como o jabuti
O de antes de agora em diante
E o distante galáxias daqui
Canibal tropical, qual o pau
Que dá nome à nação, renasci
Natural, analógico e digital
Libertado astronauta tupi
Eu sou feito do resto de estrelas
Daquelas primeiras, depois da explosão,
Sou semente nascendo das cinzas
Sou o corvo, o carvalho, o carvão
O meu nome é Tupy Gaykuru
Meu nome é Peri
De Ceci
Eu sou neto de Caramuru
Sou Galdino, Juruna e Raoni
E no Cosmos de onde eu vim
Com a imagem do caos
Me projeto futuro sem fim
Pelo espaço num tour sideral
Minhas roupas estampam em cores
A beleza do caos atual
As misérias e mil esplendores
Do planeta de Neanderthal